Agora que nós já conceituamos empreendedorismo, vamos falar sobre os tipos de empreendedores, suas características principais e as habilidades necessárias para reconhecer (ou se tornar!) um.
Importante retomar aqui uma observação feita pelo autor José Dornelas (2015, p. 34) de que ser empreendedor não se resume a ter sua empresa. O comportamento empreendedor, segundo ele, pode ser encontrado em um ator, desde a concepção até a apresentação da peça e entrega do produto ao espectador; pode estar em um funcionário público que propõe maneiras de otimizar recursos e melhor atender a sociedade ou em pessoas inconformadas com problemas sociais que lhes rodeiam e que decidem se unir para mudar aquela realidade, por exemplo. Então sim, você pode ser um empreendedor. Vamos conferir?
José Dornelas divide os empreendedores de acordo com suas motivações em dois grandes grupos: os que empreendem por necessidade e os que empreendem por oportunidade. Vamos conhecer um pouco mais essas categorias?
Empreendedores por necessidade
Em nosso país, vivemos momentos difíceis de desemprego, subempregos, falta de acesso à educação de qualidade, entre outras coisas.
Dornelas (2015, p. 36) apresenta as principais motivações que podem levar as pessoas a buscarem empreender por necessidade.
- Falta de acesso a oportunidades de trabalho formal como empregado: aliado à falta de conhecimento explícito e de acesso à educação formal, empreender passa a ser uma alternativa para suprir suas necessidades.
- Necessidade de recursos financeiros mínimos para arcar com as demandas da sobrevivência: Complementando o tópico anterior, o autor aponta que “O trabalho informal se torna rotina, e qualquer atividade que traga o mínimo de recursos para prover alimentação, quando muito, a si e à família, acaba por se constituir o dia a dia do empreendedor de necessidade.” (DORNELAS, 2015, p. 36).
- Carência de conhecimento explícito: quanto menor o acesso dos adultos ao conhecimento formal e de qualidade quando crianças e jovens, maior a chance de empreenderem por necessidade, pois ficou uma lacuna do que o autor chama de conhecimento tácito.
- Demissão e desemprego: muitas vezes, uma demissão inesperada ou oportunidades formais que não aparecem fazem com que as pessoas mudem seus planos e empreendam por necessidade. Afinal, é preciso garantir o sustento de si e dos seus familiares.
Empreendedores por oportunidade
Diferentemente dos que necessitam empreender por sobrevivência, estão neste grupo motivações que se dão a partir de oportunidades que aparecem na vida dessas pessoas ou ainda de metas planejadas. Vejamos as motivações:
- Decisão deliberada e/ou planejada: muitos empreendedores se planejam e preparam para empreender. De maneira estratégica, decidem em que investir e tocam adiante algum projeto. Segundo Dornelas (2015, p. 37), são geralmente funcionários de grandes empresas que acumularam experiência e recursos para abrir e investir em seus próprios sonhos.
- Ideia, descoberta, inovação: essa motivação pode se dar desde a partir de um pesquisador que descobriu alguma coisa genial para impactar a vida das pessoas quanto por meio de pessoas que criam suas empresas a partir de soluções que enxergam no dia a dia das pessoas, inclusive para resolverem problemas pessoais.
- Convite: algumas pessoas empreendem porque foram convidadas para um projeto diferente, como sócios que complementam as habilidades de quem concebeu a ideia do novo negócio.
- Busca sistemática (querer ganhar dinheiro e se realizar financeiramente): alguns empreendedores colocam como fator prioritário a busca pela realização financeira e testam as opções do mercado que melhor possam se tornar oportunidades de negócio.
- Desejo de autonomia: é a motivação que a maioria dos empreendedores tem de tomar as decisões, de definir o caminho a seguir, de ter voz em seu negócio. Essa postura exige cuidado, pois pode ser que o empreendedor precise ouvir seus sócios ou clientes chaves para ter sucesso.
- Ganhar um recurso inesperado: é a motivação financeira que faltava para um empreendedor que tinha vontade, mas não tinha condições de empreender. Ganhar na loteria ou receber um bônus na empresa em que trabalha pode ser o incentivo decisivo para empreender.
- Receber herança e/ou participar de sucessão de empresa familiar: outras motivações que dariam um passo importante para se montar um novo negócio.
- Projeto da pós-carreira: a aposentadoria pode significar uma passagem do mundo da carteira assinada para uma nova fase da vida profissional, a de ser dono do próprio negócio.
- Missão de vida: algumas pessoas sonham em deixar um legado e aproveitam para empreender, devolver soluções à sociedade, gerar empregos e riquezas como parte de uma missão.
Figura 1- Motivação dos empreendedores | Fonte: Dornelas (2015, p. 36)
Com base na publicação de José Dornelas, a revista Exame fez uma releitura das principais características e habilidades empreendedoras. Vamos acompanhar? Aproveite para ver se você se encaixa em alguns desses perfis e se abra para novas oportunidades!
- O informal: é o empreendedor que atua para pagar as contas imediatas. Precisa do negócio para sobreviver. Aos poucos, este profissional tem sido substituído pelo Microempreendedor Individual (MEI)
- O cooperado: este perfil empreende de maneira intuitiva, ligado a cooperativas. Geralmente tem poucos recursos e tem como meta crescer até se tornar independente.
- O individual: é o empreendedor informal que se formalizou através do MEI e começa a estruturar uma empresa. Geralmente age pela sobrevivência e trabalha sozinho ou com mais um sócio.
- O franqueado e o franqueador: considerados empreendedores pela iniciativa de comandar um negócio, mesmo que uma franquia. O franqueado geralmente procura uma renda mensal média e o retorno do investimento. Já o franqueador costuma ser exemplo de empreendedorismo ao expandir sua marca por meio de uma rede de franquias.
- O social: empreendedores que aliam o desejo de transformar a sociedade em que vivem com a oportunidade de ganhar dinheiro.
- O corporativo: também chamado de intraempreendedor, é um funcionário que empreende novos projetos na empresa que trabalha, visando ao crescimento da empresa.
- O público: parte do conceito do intraempreendedor, mas atua no setor governamental. Não se entrega à estabilidade e busca o bem coletivo.
- O do conhecimento: este empreendedor usa um profundo conhecimento em determinada área para conseguir faturar.
É o profissional liberal que quer fazer a diferença; o maestro que rege a orquestra com perfeição e entusiasma a plateia com o resultado obtido; o escritor que estimula as pessoas a sonhar e a viver o papel do protagonista da história. (DORNELAS, 2015, p. 40).
- O do negócio próprio: a princípio, empreende sem muitas expectativas de crescimento mas para ser dono do próprio negócio, ter um padrão de vida digno, certo status social. O empreendedor que arrisca, pode construir algo duradouro e que eventualmente muda o mundo, ou pelo menos sua região, cidade, comunidade; e pode se tornar um franqueador e gerar riqueza e empregos e servir a sociedade com sua empresa.
A figura acima nos mostra que essas categorias não são estáticas, e que os empreendedores por necessidade podem, com dedicação, esforço, planejamento e preparo migrar para ser empreendedor de oportunidade.
Características e habilidades empreendedoras
Em um artigo muito interessante sobre o “Perfil empreendedor e desempenho organizacional”, os pesquisadores Serje Schmidt e Maria Cristina Bohnenberger propuseram a identificação de algumas características a partir das quais poderiam medir e identificar o perfil empreendedor de cada caso analisado. Dentre elas, elencaram: autoeficácia, capacidade de assumir riscos calculados, planejador, detecta oportunidades, persistência, sociável, inovação e liderança.
Vamos entender o que cada uma dessas características atitudinais nos ensinam, ou melhor, quais atitudes são importantes para o empreendedor segundo os autores Schmidt e Bohnenberger (2009, p. 453-454).
É a estimativa que uma pessoa tem das suas capacidades de mobilizar motivação, recursos cognitivos e cursos de ação necessários para exercitar controle sobre eventos na sua vida (Carland et al., 1988; Chen et al., 1998; Kaufman, 1991; Longenecker et al., 1997; Markman & Baron, 2003).
Pessoa que, diante de um projeto pessoal, relaciona e analisa as variáveis que podem influenciar o seu resultado, decidindo, a partir disso, a continuidade do projeto (Carland et al., 1988; Drucker, 1986; Hisrich & Peters, 2004).
Pessoa que se prepara para o futuro (Filion, 2000; Kaufman, 1991; Souza et al., 2004).
Habilidade de capturar, reconhecer e fazer uso efetivo de informações abstratas, implícitas e em constante mudança (Birley & Muzyka, 2001; Degen, 1989; Markman & Baron, 2003).
Capacidade de trabalhar de forma intensiva, sujeitando-se até mesmo a privações sociais, em projetos de retorno incerto (Drucker, 1986; Markman & Baron, 2003; Souzaet al., 2004).
Grau de utilização da rede social para suporte à atividade profissional (Hisrich & Peters, 2004; Longenecker et al., 1997; Markman & Baron, 2003).
Pessoa que relaciona ideias, fatos, necessidades e demandas de mercado de forma criativa (Birley & Muzyka, 2001; Carland et al., 1988; Degen, 1989; Filion, 2000).
Pessoa que, a partir de um objetivo próprio, influencia outras pessoas a adotarem voluntariamente esse objetivo (Filion, 2000; Hisrich & Peters, 2004; Longenecker et al., 1997).
Fonte: (SCHMIDT; BOHNENBERGER, 2009, p. 453-454)
- Autoeficaz: é a estimativa que uma pessoa tem das suas capacidades de mobilizar motivação, recursos cognitivos e cursos de ação necessários para exercitar controle sobre eventos na sua vida (Carland et al., 1988; Chen et al., 1998; Kaufman, 1991; Longenecker et al., 1997; Markman & Baron, 2003).
- Assume Riscos calculados: pessoa que, diante de um projeto pessoal, relaciona e analisa as variáveis que podem influenciar o seu resultado, decidindo, a partir disso, a continuidade do projeto (Carland et al., 1988; Drucker, 1986; Hisrich & Peters, 2004).
- Planejador: pessoa que se prepara para o futuro (Filion, 2000; Kaufman, 1991; Souza et al., 2004).
- Detecta oportunidades: habilidade de capturar, reconhecer e fazer uso efetivo de informações abstratas, implícitas e em constante mudança (Birley & Muzyka, 2001; Degen, 1989; Markman & Baron, 2003).
- Persistente: capacidade de trabalhar de forma intensiva, sujeitando-se até mesmo a privações sociais, em projetos de retorno incerto (Drucker, 1986; Markman & Baron, 2003; Souza et al., 2004).
- Sociável: grau de utilização da rede social para suporte à atividade profissional (Hisrich & Peters, 2004; Longenecker et al., 1997; Markman & Baron, 2003).
- Inovador: pessoa que relaciona ideias, fatos, necessidades e demandas de mercado de forma criativa (Birley & Muzyka, 2001; Carland et al., 1988; Degen, 1989; Filion, 2000).
- Líder: pessoa que, a partir de um objetivo próprio, influencia outras pessoas a adotarem voluntariamente esse objetivo (Filion, 2000; Hisrich & Peters, 2004; Longenecker et al., 1997).
Fonte: (SCHMIDT; BOHNENBERGER, 2009, p. 453-454)
Agora que você já conhece as principais características de um empreendedor, na Aula 3, nos aprofundaremos em autoanálise. Quem sabe você não encontra aqui uma grande motivação e oportunidade para empreender?