Professora Especialista

Juliana Spadoto

Comunicação
e socialização
“Quem não se comunica se trumbica” - Chacrinha, comunicador

Ter uma boa comunicação escrita e falada certamente pode ampliar as oportunidades no mercado de trabalho. O que se observa muitas vezes é que o profissional concentra esforços em somente entender o que os recrutadores esperam nas entrevistas e como eles devem se posicionar diante do gestor, mas se esquecem de que dominar o português demonstra que ele tem um nível básico de educação e que está preparado para se comunicar em situações diversas, sejam elas com seus colegas de trabalho, clientes ou fornecedores.

Falar e escrever bem é importante tanto ao participar de um processo seletivo como para atuar ativamente bem no seu trabalho, afinal, do que adianta ser um profissional com grande experiência e boa formação se você não tiver uma comunicação clara, que transmita todo o seu conhecimento? Acredite: um português bem falado e bem escrito faz a diferença.

Agora, estimado(a) aluno(a), pense nas seguintes questões: 

Por que o homem se comunica?
O jeito que um grupo ou indivíduo se comunica tem a ver com o meio social em que vive?
Comunicar-se é essencial para a vida ou é possível “existir” sem ter contato com a escrita, a fala e o contato social? 
  • Por que o homem se comunica?
  • O jeito que um grupo ou indivíduo se comunica tem a ver com o meio social em que vive?
  • Comunicar-se é essencial para a vida ou é possível “existir” sem ter contato com a escrita, a fala e o contato social?

Agora pense em sua casa, seu bairro, sua escola, sua turma. Esses certamente foram os primeiros meios sociais em que você viveu, e a comunicação foi o canal pelo qual sua cultura foi transmitida a você.  

Foi usando a linguagem, falando e ouvindo, escrevendo e lendo, que você aprendeu a ser membro de sociedade (DÍAZ BORDENAVE apud INFANTE, 1998), que adotou seu modo de pensar e de agir, suas crenças e valores, seus hábitos e tabus. Não foram os professores na escola que lhe ensinaram sua cultura: foi a comunicação diária com pais, irmãos e amigos, na rua, no ônibus, no jogo, no bar e na igreja que lhe transmitiu, ainda criança, as qualidades essenciais para viver em sociedade e ser cidadão.

Utilizar bem a linguagem e a interpretação vai muito além do que apenas falar ou escrever: é fazer parte de grupos sociais, ascender pessoal e profissionalmente, adquirir e compartilhar conhecimento. A comunicação confunde-se com nossa própria vida. Temos tanta consciência de que comunicamos como de que respiramos ou andamos. Somente percebemos sua importância quando, por um acidente ou doença, perdemos a capacidade de nos comunicar. Você sabia que pessoas que foram impedidas de se comunicar durante longos períodos enlouqueceram ou ficaram perto da loucura?

Díaz Bordenave (1986) traduz em exemplos do dia a dia a importância da linguagem e da comunicação em diferentes contextos:

“Alguém fez, uma vez, uma lista dos atos de comunicação que um homem qualquer realiza desde que se levanta pela manhã até a hora de deitar-se, no fim do dia. A quantidade de atos de comunicação é simplesmente inacreditável, desde o ‘bom dia’ à sua mulher, acompanhado ou não por um beijo, passando pela leitura do jornal, a decodificação de número e cores do ônibus que o leva ao trabalho, o pagamento ao cobrador, a conversa com o companheiro de banco, os cumprimentos aos colegas no escritório, o trabalho com documentos, recibos, relatórios, as reuniões e entrevistas, a visita ao banco e as conversas com seu chefe, os inúmeros telefonemas, o papo durante o almoço, a escolha do prato do menu, a conversa com os filhos no jantar, o programinha de televisão, o diálogo amoroso com sua mulher antes de dormir, e o ato final de comunicação num dia cheio dela: ‘boa noite’.” (Díaz Bordenave, 1986)      

Assim, vale ressaltar a importância de estar atento ao modo como nos comunicamos em diferentes meios que convivemos. É fato que ninguém usa o mesmo linguajar, as mesmas palavras, postura e tom de voz quando conversa com os amigos em uma festa e quando trata com o patrão no ambiente de trabalho. São contextos díspares que exigem uma percepção e uma fala para cada um deles. Misturá-los é perigoso, causa uma impressão errada e pode até lhe retirar de algum meio de convívio social.

No filme “O Náufrago”, de Robert Zemeckis, Chuck Noland (Tom Hanks) fica sozinho em uma ilha deserta depois de um desastre de avião. A certa altura da trama, ele “faz amizade” com uma bola de vôlei, à qual ele chama de Wilson – a marca da bola. À primeira impressão, o espectador pode achar que Chuck ficou louco por conversar e dedicar sentimentos a uma bola, mas o que se percebe é o contrário: ele sabe que ficará louco se não socializar com alguém na ilha. Logo, conversa com um objeto e a ele atribui características humanas para evitar ir à loucura enquanto está sozinho. Leia um artigo sobre as teorias da comunicação do filme:

Leia o artigo:Disponível aqui

Comunicação e Tecnologia

‍Após a revolução industrial, no início do século XIX, houve a invenção de máquinas capazes de produzir, armazenar e difundir linguagens, tais como a fotografia, o cinema, os meios de impressão gráfica, o rádio, a TV, o computador e seus derivados, tablet, iphone, celulares, etc. Com um simples apertar de botões ou por meio de uma tela touch screen, as notícias nos chegam da mesma forma como nos chegam a água e a eletricidade.

Atualmente, com o avanço da tecnologia, existe também a indústria 4.0, na qual a linguagem da comunicação é feita quase que totalmente entre as próprias máquinas, utilizando-se, inclusive, da tecnologia da linguagem computacional denominada “Internet das coisas”, obviamente que necessitando de um ser humano para o seu desenvolvimento. Nesse contexto, “o mundo está no início de uma quarta revolução industrial, e essa revolução está acontecendo devido à eliminação dos limites entre o mundo digital, o mundo físico, que são as coisas, e o mundo biológico, que somos nós” (IEASP, 2016).

Acompanhe as principais invenções históricas a favor da comunicação:

INVENÇÕES HISTÓRICAS

  • JORNAL - o primeiro exemplar data de 59 a.C., em Roma, quando Julio César quis informar o povo sobre os mais importantes acontecimentos sociais e políticos do seu império. Até hoje, tem praticamente a mesma função.
  • RÁDIO - com sua primeira transmissão datada de 1900, foi um marco na história, pois ao contrário do jornal, as ondas do rádio tinham um alcance de pessoas e velocidade e informação muito superiores.
  • TELEVISÃO - em 1924, a TV trouxe a junção dos componentes gráficos (imagens e figuras) de um jornal com os componentes de áudio do rádio (a fala), o que tornou possível ver imagens em movimento juntamente com o áudio.
  • INTERNET - desenvolvida em 1969 nos EUA para fins de comunicação militar, tinha o nome de ArpaNet. Com o fim da Guerra Fria, o sistema tornou-se praticamente desnecessário para fins militares e o Exército decidiu levá-lo a público.

Fazendo um resumo, vê-se um processo crescente em que o homem desenvolveu a linguagem depois dos desenhos nas cavernas, com a escrita, o papel, as impressões manuais e as mecânicas, sendo assim possível a informação cruzar grandes distâncias geográficas, culturais e cronológicas.

Passamos pelos meios de comunicação como jornais e revistas, rádio e televisão, e chegamos à nossa época, à qual chamamos de Era da Tecnologia e da Informação. Na Era da Tecnologia, o computador é o carro-chefe. Quando foi desenvolvido em 1943, era uma máquina gigantesca que ocupava uma sala inteira e só servia para fazer cálculos, até 1971, quando surgiu nos EUA o primeiro microcomputador.

Andando lado a lado com a evolução dos computadores, está a Internet, que nem sempre foi da maneira que a conhecemos: na verdade, ela foi desenvolvida para fins militares e não passava de um sistema de comunicação entre as bases militares dos EUA. Em 1971, a até então chamada ArpaNet passou a ser usada por acadêmicos e professores universitários, principalmente nos EUA, para trocarem ideias e mensagens, e então recebeu o nome de Internet. A disseminação e a popularização da rede no Brasil aconteceram no final da década de 1990, e aos poucos foi se tornando aquilo que conhecemos hoje: indispensável para a nossa vida, pois estar conectado à rede mundial é uma fonte de conhecimento, interatividade, diversão e, acima de tudo, de comunicação.

Gírias, jargões e os Grupos Sociais

Considerando o grupo social do qual o sujeito faz parte, ele passa a dominar determinado tipo de vocabulário e expressões que não são compreendidos dentro de outro grupo social. É o caso dos diferentes jargões utilizados em discursos jurídicos, médicos, presidiários, cantores, jogadores de futebol, chefes de cozinha, etc. Cada grupo específico possui palavras que são frequentemente utilizadas em seu dia a dia, mas que dificilmente são compreendidas dentro de outro grupo social.

GÍRIA x JARGÃO

A gíria teve sua origem na maneira de falar de grupos marginalizados que não queriam ser entendidos por quem não pertencesse ao grupo. Hoje, entende-se a gíria como uma linguagem específica de grupos específicos, como os jovens. Já o jargão é o modo de falar específico de um grupo, geralmente ligado à profissão. Existe, por exemplo, o jargão dos médicos, o jargão dos especialistas em informática, etc.

A gíria    

Conceitualizando, Araújo e Sousa nos dizem que

(...) gíria é o tipo de linguagem que surge restrita a um determinado grupo, como um código, que com o passar dos tempos invade a sociedade sendo utilizada pelas pessoas até de forma inconsciente, independentemente da idade ou nível social da qual fazem parte, tornando o seu uso muito frequente em qualquer situação de interação. (ARAÚJO E SOUZA, s/d).

Na prática, sabemos que a gíria é uma fala informal, que varia conforme o grupo e a época. Você se lembra das gírias que falava quando criança? São as mesmas que os jovens falam hoje? Certamente a resposta é não. Caso alguém leia este mesmo material em 2030, por exemplo, as gírias atuais aqui expostas já serão ultrapassadas.

Gírias comuns nos anos 1980 Gírias comuns nos anos 2010
Putz, grila!
Isso é do balacobaco!
Essa foto é do arco da velha.
Que ideia de jerico!
Você fala mais que o homem da cobra…
Vamos tomar umas birinaites?
Repete isso, volta a fita!
Vira o disco, fala outra coisa!
Você é um chato de galochas
Tô gamado!
Sacou?
Tô na pindaíba… sem um tostão furado.
Ela é pra frentex, toda modernosa…
Vamos deixar rolar…
Nossa, peguei ranço dele.
Para de ser biscoiteira, só quer atenção!
Partiu?
Deu ruim!
Hoje vou sair com o meu/a minha crush.
Sua irmã divou no evento ontem!
Cola lá em casa pra gente ver filme…
Que estilo mais chavoso, hein!
Falou tudo! Lacrou!
A festa foi top!
Hoje o chefe está pistola com a gente.
Meu celular bugou.
Pode pá! Entendi!
Vamos sair de rolê?
Ele é meu parça!

Fonte: elaborado pela autora.

E quem cria as gírias? - Nós mesmos, os próprios falantes de uma língua. E elas podem surgir nas mais diversas situações tais como contextos culturais, de entretenimento, na internet, na rua, em um vídeo que viraliza... São expressões que normalmente não fariam sentido nenhum, ou têm algum sentido completamente diferente daquele em que são usadas, mas o fato é que as gírias enriquecem a linguagem de tal forma que, em determinados casos, é impossível ser compreendido sem usar nenhuma.

Veja mais alguns exemplos da evolução das gírias desde os anos 60:

Fonte:Disponível aqui

O jargão      

Imagine que você está em um hospital e ouve um médico conversando com outro. Um deles diz:

- Em relação à dona Maria, o prognóstico é favorável ao caso de pronta-suspensão do remédio.

É provável que você tenha levado algum tempo até entender o que o médico falou, pois ele utilizou termos com os quais os dois colegas médicos estão acostumados. Com a paciente, o médico deve falar de uma maneira mais simples, como: "Bem, dona Maria, a senhora pode parar de tomar o remédio, sem problemas.”

Este é um caso de jargão – no caso, médico.

Jargão é o modo de falar usando termos específicos de um grupo, geralmente ligados à profissão. Para Dino Preti, professor titular de língua portuguesa da PUC-SP, jargão é a "linguagem científica ou técnica banalizada". Por definição, é uma forma de falar inadequada à situação. “A pessoa quer se promover, mostrar que fala uma linguagem que o outro desconhece”, segundo o professor. Mas muitos especialistas dizem que os jargões são frases prontas que tiram a autenticidade do texto porque são consideradas antiquadas.

Você sabe o que significa briefing, feedback e ranking? São termos do chamado “corporativês”. Nessa linguagem, muitos jargões são emprestados da língua inglesa e nem foram traduzidos para o português. As pessoas que não sabem o significado desses termos podem prejudicar a comunicação, assim como aquelas que os usam a todo o momento, pois podem se expressar de maneira incorreta e “forçada”. Se o profissional está em uma conversa entre amigos, não há necessidade de usar esses termos, pois pode passar uma imagem de arrogância. Quem não conhece bem o significado dos termos é melhor não utilizá-los! Conheça uma lista desses jargões em inglês em:

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Fonte:Disponível aqui

Apesar da rapidez com que os jargões são disseminados, é importante levar em conta o ambiente e a situação em que estamos para saber utilizar a língua de modo adequado. Dessa forma, é possível estabelecer uma comunicação eficaz, alcançando o objetivo por parte do emissor e, ao mesmo tempo, a compreensão por parte do receptor.

Cada pessoa e grupo social possui uma maneira própria de falar e criar suas próprias marcas linguísticas. Tais marcas produzem uma variedade não apenas no âmbito geográfico, mas também no âmbito profissional. Em suma, a língua varia de acordo com os elementos regionais, socioculturais e contextuais, conceitos que veremos mais adiante neste curso.

Você já ouviu falar em anglicismo? Trata-se do uso de termos da língua inglesa mesmo quando existem as mesmas palavras na língua portuguesa. Há quem diga que são termos indispensáveis para dar um ar mais “chique”, profissional ou corporativo à situação, mas outros defendem que é um exagero, já que os mesmos termos podem ser encontrados em português. O que você acha? Exagero ou necessidade?

  • Passatempo em vez de hobby.
  • Assessoria em vez de coaching.
  • Roupa em vez de outfit.
  • Aparência em vez de look.
  • Registro de entrada em vez de check in.
  • Registro de saída em vez de check out.
  • Cópia de segurança em vez de backup.
  • Senha em vez de password.
  • Cobrir em vez de cover.
  • Prazo máximo em vez de deadline.
  • Experiência em vez de know-how.

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Nesta aula estudamos:

  • A comunicação e socialização
  • Comunicação e Tecnologia
  • ‍Gírias, jargões e os Grupos Sociais

Para complementar seus estudo assista a videoaula a seguir:

Parabéns! Aula Concluída.

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