Professora Especialista

Juliana Spadoto

Variações
Linguísticas
“A linguagem existe para que nos sirvamos dela, não para que sirvamos a ela” - Fernando Pessoa, poeta.

Nos espaços sociais em que vivemos, temos a oportunidade de encontrar diversas formas de linguagem escolhidas dependendo da intenção do emissor. Vejamos algumas informações sobre as características e os aspectos mais relevantes que demarcam as formas de linguagem, sejam elas no plano verbal ou no plano não verbal.

No instante em que você põe os olhos em um texto, você o lê. Por que você o leu? Porque, a partir do momento que você se alfabetizou, torna-se um ato instintivo, automático. Placas, sinais, filmes, livros, bilhetes, posts, todas essas manifestações só existem porque existe a linguagem aprendida. 

Já vimos nas aulas anteriores que a linguagem está diretamente relacionada à prática social. Ela é viva e dinâmica, e tanto modifica a sociedade quanto é por ela modificada. Nos estudos sobre o assunto, a linguagem é abordada e entendida a partir de três vertentes, e a prática social é uma delas:

A linguagem é algo externo ao sujeito

É um conjunto de regras e formas aprendidas, e só existe comunicação se o emissor e o receptor dividirem o mesmo código.

A linguagem é uma capacidade inerente ao ser humano

Ela se faz na vida do ser humano a partir em que seu cérebro e corpo começam a ficar suficientemente maduros para isso.

A linguagem é uma prática social

Ela surge da necessidade do homem de viver em grupos sociais e de realizar trocas com os integrantes desses grupos.

(Fonte: adaptado de Mendonça, 2012)

A linguagem é algo externo ao sujeito

É um conjunto de regras e formas aprendidas, e só existe comunicação se o emissor e o receptor dividirem o mesmo código.

A linguagem é uma capacidade inerente ao ser humano

Ela se faz na vida do ser humano a partir em que seu cérebro e corpo começam a ficar suficientemente maduros para isso.

A linguagem é uma prática social

Ela surge da necessidade do homem de viver em grupos sociais e de realizar trocas com os integrantes desses grupos.

Fonte: adaptado de Mendonça, 2012.

Além do português padrão, há outras variedades que são usadas em situações informais diversas e diferentes de acordo com o contexto e sujeitos do processo comunicativo. Fatores tais como escolaridade, nível social, idade, região, etc. são responsáveis por determinado tipo de linguajar que pode ser discriminado inclusive dentro de situações informais.

Infelizmente, a língua é vista como um status social e há muito preconceito em relação às pessoas que não sabem utilizar a norma padrão e culta da língua portuguesa, mas conhecer as variações linguísticas é importante justamente para combater esse preconceito.

Leia o seguinte trecho:

Antigamente

Antigamente, as moças chamavam-se mademoiselles e eram todas mimosas e muito prendadas. Não faziam anos: completavam primaveras, em geral dezoito. Os janotas, mesmo sendo rapagões, faziam-lhes pé-de-alferes, arrastando a asa, mas ficavam longos meses debaixo do balaio. (...) Antigamente, acontecia o indivíduo apanhar constipação; ficando perrengue, mandava o próprio chamar o doutor e, depois, ir à botica para aviar a receita, de cápsulas ou pílulas fedorentas. Antigamente, os homens portavam ceroulas, botinas e capa-de-goma, não havia fotógrafos, mas retratistas, e os cristãos não morriam: descansavam.Mas tudo isso era antigamente, isto é, outrora.

Carlos Drummond de Andrade, in: Quadrante (1962), obra coletiva. Reproduzida em Caminhos de João Brandão, José Olympio, 1970.

É perceptível que nele existem expressões que já não usamos mais, tais como mademoiselles, janotas, pé-de-alferes, balaio, botica, ceroulas, outrora. O texto de Drummond fala exatamente disso: de como se falava antigamente.
Caso fôssemos adequá-las ao vocabulário atual, como ficaria? Os termos em destaque seriam substituídos por “mina”, “gatinha”, “cantadas”, “da hora”, “os caras”, “a galera,” “farmácia”, “cuecas” e assim por diante.

Perceberam que a língua é dinâmica? Ela sofre transformações com o passar do tempo em virtude de vários fatores advindos da própria sociedade, que também é totalmente mutável.

Ou seja: todo mundo tem seu jeito de falar, seja por história pessoal ou coletiva. O que vale lembrar é que não existe certo ou um errado quando a questão é sotaque, por exemplo, ou vocabulário diferente de uma geração ou região para outra.

Errado é o que não está de acordo com a gramática vigente. As diferentes formas de falar a língua portuguesa são chamadas de variações linguísticas.

Segundo Moysés (2014),

“[...] o português, como qualquer outra língua, não é estático e imutável. Assim sendo, podemos dizer que uma língua não é uma unidade homogênea e uniforme. Ela poderia ser definida como um conjunto de variedades. É esta diversidade que faz surgir os níveis de linguagem que variam de acordo com o nível social, econômico, cultural e geográfico. No Brasil há uma grande variedade de pronúncia e vocabulário: há diferentes sotaques: o sotaque mineiro, o gaúcho, o nordestino, etc. Também no vocabulário observam-se diferenças entre regiões e também na fala de quem mora na capital e de quem vive na zona rural” (MOYSÉS, 2014).

Assim, essas variações são dividas em:

VARIAÇÃO HISTÓRICA

A língua sofre variações devido ao tempo transcorrido.

VARIAÇÃO REGIONAL

A língua sofre variações devido ao lugar em que o falante vive.

VARIAÇÃO SOCIOCULTURAL

A língua sofre variações devido à condição social, econômica e educacional e ao meio cultural em que o falante vive.

  • Variação histórica - a língua sofre variações devido ao tempo transcorrido
  • Variação regional - a língua sofre variações devido ao lugar em que o falante vive
  • Variação sociocultural - a língua sofre variações devido à condição social, econômica e educacional e ao meio cultural em que o falante vive

Variação Histórica

É aquela que sofre transformações ao longo do tempo. Por exemplo, a palavra “você”, que no tempo do Brasil colônia era “vossa mercê” e depois virou “vosmecê”. O mesmo acontece com as palavras escritas com PH, como era o caso de pharmácia, agora, farmácia.

No século IX, seria comum encontrar uma placa em algum local público onde se lêsse:

Veja como a grafia era diferente. Estava errado? Não, pois na época, era assim que se escrevia.

É famoso nas redes sociais e por quem estuda variações linguísticas o “cartão da paquera”, nome usado para identificar o bilhete do século XIX encontrado no acervo bibliográfico que pertenceu ao gaúcho Othelo Rodrigues Rosa, jornalista, escritor, poeta e historiador que morreu em 1956.

Acredita-se que o galanteio seja obra de algum expert em fazer a corte às damas da época. Ao que tudo indica, o dono do cartão de fato se deu bem, uma vez que é possível observar no cartão original uma discreta marca no canto inferior direito do cartão.

E você, em tempos de aplicativos de encontros e amores líquidos, o que achou do método?

Variação Regional 

São as variações ocorridas de acordo com a cultura de uma determinada região como, por exemplo, a palavra mandioca, que em certas regiões é tratada por macaxeira e aipim; e abóbora, que também é conhecida como jerimum dependendo do estado brasileiro. O sotaque também é uma variação regional, como em regiões que puxam o “r” ou ainda falam “tu” mesmo que não conjugue o verbo corretamente (tu é, tu vai, etc.).

Uso de “r” pelo “l” em final de sílaba e nos grupos consonantais: dizem pranta, broco ao invés de planta, bloco.

  • Alternância de “lh” e “i”: dizem muié, véio ao invés de mulher, velho.
  • Tendência a tornar paroxítonas as palavras proparoxítonas: dizem arve, figo ao invés de árvore, fígado.
  • Redução dos ditongos: dizem pexe, caxa ao invés de peixe, caixa.
  • Simplificação da concordância: dizem “as menina” ao invés de “as meninas”.
  • Ausência de concordância verbal quando o sujeito vem depois do verbo: dizem chegou duas moças ao invés de chegaram duas moças.
  • Uso de pronome pessoal tônico em função de objeto: dizem “Nós pegamos ele” ao invés de “Nós o pegamos”.
  • Assimilação do “ndo” em “no”: dizem falano ao invés de falando.
  • Assimilação do “mb” em “m”: dizem tamém ao invés de também.
  • Desnasalização das vogais postônicas: dizem home ao invés de homem.
  • Redução do “o” e do “e” átonos: dizem ovu ao invés de ovo, bébi ao invés de bebe;
  • Redução do R do infinitivo ou de substantivos terminados em OR: dizem amá, amô ao invés de amar, amor.
  • Simplificação da conjugação verbal: dizem “nós ama, eles ama” ao invés de “nós amamos, eles amam”.

Fonte: Nery, 2007

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Variação Sociocultural

É aquela pertencente a um grupo específico. Neste caso, podemos destacar as gírias, a linguagem coloquial usada no dia a dia das pessoas e a linguagem formal, que é aquela utilizada por pessoas com maior grau de instrução.
Também fazem parte deste grupo os jargões, dos quais já falamos na Aula 2, que pertencem a uma classe profissional mais específica, como é o caso dos médicos, profissionais da informática e policias, dentre outros.

Diante de tantas variantes linguísticas, é inevitável perguntar qual delas é a correta. Resposta: não existe uma opção correta em termos absolutos, mas sim, a mais adequada a cada contexto. Dessa maneira, falar bem significa se mostrar capaz de escolher a variante adequada a cada situação e conseguir o máximo de eficiência dentro da variante escolhida.

Usar o português próprio da língua escrita formal em uma situação descontraída da comunicação oral é falar de modo inadequado. Soa como pretensioso, pedante, artificial. Por outro lado, é inadequado em situação formal usar gírias, termos chulos, desrespeitosos, fugindo das normas típicas dessa situação.

Linguagem Formal e Informal

A linguagem formal é baseada na norma culta, que é o modelo de padrões linguísticos que determinam seu uso correto. Em outras palavras, é aquela linguagem sem erros e gírias utilizada em livros, revistas,  documentos oficiais, etc. Como podemos ver, a linguagem formal é voltada principalmente para a comunicação escrita e vai de acordo com a gramática vigente.

Por outro lado, quando conversamos espontaneamente e fazemos o uso de formas reduzidas tais como “cê” (você), “taí” (está aí), “pra” (para), por exemplo, temos a linguagem informal. Neste caso, nos comunicamos principalmente por meio da fala e de maneira coloquial. Um famoso exemplo da diferença existente entre tais é o poema “Pronominais”, de Oswald de Andrade.

Veja:

Pronominais

Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro.

O primeiro verso foi escrito de acordo com a norma culta, logo, em uma linguagem formal, pois o verbo (dar) vem antes do pronome (me). A gramática diz que o pronome (no caso “me”) nunca deve vir antes do verbo em começo de frase. No último verso, já ocorre o contrário: o pronome (me) vem antes do verbo (dar), representando assim a forma como falamos e também a linguagem informal. Mas não podemos dizer que se trata de uma forma errada: é somente inadequada em ocasiões e discursos formais.

Características da linguagem formal 

  • Preserva as convenções gramaticais e sempre respeitando a norma culta da língua portuguesa.
  • É utilizada para comunicação com autoridades e superiores em organizações, em conferências, palestras e seminários, documentos oficiais e discursos públicos.
  • Envolve a comunicação entre pessoas que não se conhecem ou possuem pouca ou quase nenhuma afinidade.
  • Também chamada de norma culta ou padrão. 

 Características da linguagem informal 

  • Preza pela descontração e pelo relaxamento quanto às regras gramaticais.
  • Permite o uso de palavras mais simples, abreviadas e até gírias.
  • É muito utilizada na comunicação entre amigos, colegas, familiares e pessoas com alto grau de envolvimento e relacionamento.
  • Também chamada de linguagem coloquial.

Existem diferentes situações de comunicação. Uma mesma pessoa pode escolher uma forma de linguagem mais conservadora numa situação formal ou um linguajar mais informal, em situação mais descontraída. Quantas vezes isso não acontece conosco no cotidiano? Na família e com amigos falamos de uma forma, mas numa entrevista de emprego é muito diferente.

O sucesso da comunicação não depende apenas de saber utilizar os elementos do processo comunicativo. É preciso que o emissor considere, antes de qualquer coisa, quem é o seu público-alvo. Após estar ciente de quem receberá sua mensagem, o emissor deverá, então, adequar sua mensagem utilizando uma linguagem que atinja seu receptor da melhor forma. Para isso, é imprescindível levar em conta o contexto de comunicação, ou seja, se é um ambiente formal ou informal.   Além disso, é importante compreender as expressões, gírias ou jargões específicos do público-alvo para que a comunicação flua da forma mais natural possível.

Sotaques são fascinantes. É curioso perceber como uma entonação ou palavra são tão diferentes em lugares distintos do mesmo país, e com um país tão grande e diverso como o Brasil. Então escolha sabiamente, pois a chave para o sucesso está em alguma pronuncia entre o Oiapoque ao Chuí!

Assista a uma sketch bem humorada do grupo Porta dos Fundos sobre um inusitado candidato com diversos sotaques em uma entrevista de emprego.

Acesse:Disponível aqui

Nesta aula estudamos:

  • Variação Histórica
  • Variação Regional 
  • Variação Sociocultural
  • Linguagem Formal e Informal

Para complementar seus estudo assista a videoaula a seguir:

Parabéns! Aula Concluída.

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